segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

[Ironia]

Ironia em 2 exemplos:

Exemplo: O Gato Sério
O blog O Gato Sério é um blog basicamente feito de humor. Salvo uma que outra postagem de conteúdo político, o intuito do blog é sempre o humor.
O fato de chamá-lo de O Gato Sério é justamente uma ironia, pelo fato de que ele é, em síntese, o oposto do sério. Ele não é nada sério. Nada sério pra caramba.
Portanto, a graça está em saber que o nome é uma ironia. Tirado do contexto, perde a graça e torna-se potencialmente ofensivo, afinal, sempre há pessoas donas de gatos sérios de verdade que podem se ofender.

Exemplo 2:
Escrever textos humorísticos que não recebem comentário nenhum, enquanto que outro texto humorístico com um tema mais específico ganha vários comentários. Comentários estes vindos principalmente de pessoas que não acompanhavam ou desconheciam o blog, tendo apenas lido este texto em específico, indicadas por outras pessoas com opiniões já formadas sobre o texto. Elas não pegaram o espírito do texto. Elas não têm culpa de desconhecer o teor de seriedade nulo do blog, mas acabaram por confundir o texto em questão com uma declaração séria. Isso é irônico pra caramba.

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A ironia é uma coisa complicada, porque, mesmo se você usá-la de um jeito inteligente, se ninguém entendê-la quem vai passar por burro é você. Isso por si só é bem irônico. É por isso que esse tipo de humor, e também o sarcasmo, seu irmão mais apimentado, deve ser usado com cuidado. Imagino que alguns de vocês tenham ouvido falar da história da professora que escreveu um texto ironizando o racismo, mas de um jeito onde ela incorporava o papel de uma racista, fazendo afirmações tão estapafúrdias que não poderiam ser levadas a sério. Os leitores, na teoria, notariam o quão absurdo é discriminar alguém pela cor da pele e todos seriam felizes. Teve gente que não entendeu, a professora foi indiciada e, até onde eu acompanhei a matéria, estava prestes a ser julgada, podendo ser presa. Vale lembrar que a professora fazia parte de uma ong contra o racismo e seu marido era negro.

Outro caso parecido: um certo estudante de jornalismo escreve um texto bem humorado sobre profissionais em geral de comunicação, e o coloca na internet. Por ser ele próprio um estudante de comunicação, não vê mal algum nisso, e espera pacientemente seus amigos lerem, crente de que todos poderiam rir juntos dos clichês do mundo da comunicação. Não é o que acontece. Não só os colegas falham em reconhecer o caráter do texto, ou seja, que não reflete a verdadeira opinião do autor e sim uma visão propositalmente distorcida do assunto, mas alguns deles acabam por se identificar no texto e o levam para o lado pessoal. Principalmente publicitários, mas também RPs e, por estranho que parece, nenhum jornalista, sendo que o texto fala mal, sim, deste último profissional, ainda que de forma mais sutil mas igualmente ácida. Vale lembrar que os melhores amigos do estudante de jornalismo em questão são publicitários, e ele mesmo já se candidatou para estágios de PP por interesse próprio pela área.

A professora e esse outro cara, obviamente, fizeram uma piada infeliz. Muito infeliz. Às vezes acontece isso, o humor falha, o sarcasmo é incompreendido e passamos por idiotas. A solução talvez fosse criar um reformatório do humor, que poderia substituir a cadeia para a professora. Especialistas ensinariam a fazer uso da ironia de um jeito apropriado. Haveriam cadeiras de História do Humor, onde seriam exibidos as boas comédias mudas dos filmes de antigamente, redação humorística, para não se errar mais o teor dos textos ao redigi-los e um laboratório prático de stand up comedy. Depois de uma aula básica de Teoria do Sarcasmo, alguns vídeos dos melhores momentos de Chandler em Friends iriam guiar os alunos para o caminho certo.

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Outra: Robin Williams no programa do David Letterman. O cara fez uma gracinha com o Rio, aquele negócio das strippers e do pó. Obviamente o ator não crê que o Rio seja uma cidade de strippers e pó, ele estava brincando com um clichê brasileiro que sabe-se que é exagerado. Ele fez graça com essa visão geral que há no imaginário internacional sobre o Rio de Janeiro, que é apenas uma caricatura, não o negócio real (bom, se bem que o lance da cocaína no Rio de Janeiro... deixa pra lá). Uma caricatura é justamente brincar com o exagero. Nele está a origem da graça. Isso ficou claro para mim, mas não para o prefeito Eduardo Paes, que levou a declaração para o lado pessoal. Já estão falando até em processo. Nunca fui fã do Robin Williams, mas, por algum estranho motivo, me sinto extremamente solidário com ele nessa situação. Nem sei bem porquê.

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A solução seria anunciar o sarcasmo antes de usá-lo. Isso mesmo. Antes do Robin Williams ter dito aquilo, ele deveria ter virado para a câmera, apontado e dito: "lá vai uma tiradinha com o Brasil!", e, depois da piada, ter falado algo como:
 "Lembrando que isso é uma gracinha exagerada levando em conta aspectos que não condizem cem por cento com a realidade brasileira. É apenas uma caricatura difundida em alguns países mas que não tem um comprometimento fiel com a verdade. Eu amo o Brasil, assim como todos os americanos. Votem nos democratas".
Ia matar o timing, não ia ter graça nenhuma, mas pelo menos não poderiam culpá-lo de nada. No texto escrito isso também é necessário. Talvez colocar uns sinais anunciando o começo e o final de uma tiradinha sarcástica, pra não causar confusão em ninguém. Vai tirar a graça, mas daí ninguém se ofende.

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- Porra, Lula...
- Sinto muito, companheiro...
- O que foi que eu falei? Você tem que maneirar nas piadinhas.
- Pessoalmente, eu não vi o que eu fiz de errado. Eu estava só brincando que eu era um presidente com dois mandatos e o Gordon Brown nem presidente é.
- O problema foi o sinal, Lula. Os dois dedos levantados em forma de V.
- Ué, era pra ser expressivo. Pra ele me entender. Dois mandatos. Eu não sei falar inglês. Me no speak english.
- Esse sinal é considerado um insulto no Reino Unido. Ele pensou que era outra coisa.
- Como é que eu ia saber?
- Tá, só não faz mais isso, ok? Já bastou aquela piadinha com o Kirschner ser estrábico. Consegui convencê-lo de que você estava só coçando o olho. Eu sempre consertando os seus vacilos...
- Desculpa...
- Sabe o que que eu fiz? Evitei uma guerra. Só isso. Evitei a porra de uma guerra.
- Muito obrigado... eu não sei o que faria sem o meu relações-públicas...

Só pra lembrar que RPs fazem sim muito mais que eventos.

2 comentários:

  1. É cara... as coisas ficam mais engraçadas quando se é politicamente incorreto. O problema do texto é que foi muito sutil quando falava dos jornalistas e muito exagerada falando dos publicitários. Poxa, dava pra ser mais criativo né, um arquiteto desenha mais que um publicitário. Um engenheiro mecanico é que ficaria desenhando no fim do mundo, tentando achar a salvação. Na moral a piada não teve graça, e olha que já ri muito com alguns textos que tem aqui. E eu defendo o Robin Williams também, o cara é um gênio (apesar do senhor não concordar com isso). E agora vê se faz um texto puxando o saco desses publicitários capitalistas.

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  2. "Só pra lembrar que RPs fazem sim muito mais que eventos. " =D
    Na verdade todos tem sua importancia... nao deveriamos deixar que brincadeiras dessas afetassem tanto assim nossas opinioes, não deveriamos ser tao concorrentes, deveriamos trabalhar + juntos e valorizar + o q o outro faz... paz e amor pessoal....hehehe

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