segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Os comunicadores

Não sei se é bem verdade aquele discurso que diz que, não importa se você faz jornalismo, publicidade ou relações públicas, é tudo comunicação. Tá, tá, todos comunicam, de certa forma, eu sei, mas a frase dá a entender que é tudo homogêneo, que uma profissão tem a ver com a outra. Não tem. Pense num jornalista: ele tem mais a ver com um historiador ou com um cientista político do que com um publicitário. Pelo menos com eles o jornalista teria mais assunto para bater papo. Agora imagine colocá-lo para conversar com um relações públicas numa festa. O jornalista vai tentar puxar assunto sobre o Irã ou a campanha presidencial, e o RP vai escutar desinteressado, balançando a cabeça, esperando por uma deixa para mencionar que ele foi o organizador da festa.

- ...Agora, os EUA precisam se preocupar, pois o Irã negou a proposta de enriquecer o urânio em outros países. Esse era justamente o maior temor dos países do ocidente e de Israel. Assim, os EUA não tem como controlar um possível desenvolvimento de uma bomba...
- Sim, sim. Mas falando em bomba, sabe quem organizou esta festa de arromba? Hein, hein?

Podem ver que, numa faculdade de Comunicação, é possível identificar os alunos de cada curso só com uma rápida olhada. O jornalista é o cara de óculos de aro grosso, com um exemplar de um livro de cinema francês embaixo do braço. Em uma mão, um café; na outra, um cigarro. Para cada tragada, dois goles de café, ou vice versa. O publicitário é o que está com as roupas moderninas, ironicamente adquiridas num brechó. No rosto, óculos escuros, os mais espalhafatosos possíveis. As meninas usam cabelo curto pintado em tons de vermelho, ou então descoloridos. O RP é o que não está de All Star. Simples assim.

***

Converse com um jornalista e você vai se entediar. É incrível como alguém que vê tanta coisa e tem tantas histórias pra contar não sabe como fazê-lo de um jeito interessante. É consenso que um jornalista, mesmo que seja um bom entrevistador, nunca pode ser entrevistado. Jornalista não sabe falar. Quando dá uma palestra, sempre o faz de um jeito maçante. O RP não. O RP pode não ter nada pra contar, mas o contará do jeito mais energético possível. Ele sabe fazer uma história inexistente virar uma epopeia. Por outro lado, isso pode também ser uma característa inerente às mulheres, e não à profissão, já que 90% dos RPs são mulheres. Os 10% restantes, como se sabe, são homens que não conseguiram entrar para Jornalismo.

Os publicitários ficariam em algum lugar entre os RPs e os jornalistas. Os jornalistas são fechados, os RPs são exageradamente sociáveis, os publicitários são mais ou menos. Numa festa de Comunicação, estarão lá: todos os RPs, metade dos publicitários e uns cinco jornalistas. Que ficarão conversando entre si, possivelmente sobre o Irã ou a eleição presidencial. Os RPs tentarão conversar com todo mundo, o que resulta em trocar de círculo de conversa a cada cinco minutos. Os publicitários vão falar com quem conhecem, e era isso. Eles são o fiel da balança. Não puxam nem para um lado, nem para o outro. Na real, não fazem muita coisa. Por mais que seja preciso estudar para se dar bem em uma profissão, convenhamos: Publicidade, das três, é a menos puxada. Inclusive, tem gente que entra em Publicidade só porque o curso tem essa fama de ser fácil, de só precisar ser criativo. Não é verdade, é claro, mas isso faz aumentar e muito o número de vagabundos por metro quadrado do curso.

***

Um amigo meu (publicitário) inventou a seguinte situação, para demonstrar como funcionam as diferenças entre os três profissionais: num trabalho em grupo, os RPs conversam entre si, discutindo cada aspecto do trabalho, de forma que o resultado final espelhe a opinião de todos. Os jornalistas dividem o trabalho entre si, cada um fica com uma parte e a faz sozinha. Os publicitários ficam desenhando.
Acredito que seja bem por aí. Seguindo o modelo, inventei outras situações onde pode-se notar a diferença entre os cursos:

No fim do mundo:
Os RPs se reunem para todos ficarem juntos no momento final, e se abraçam, e dizem o quanto cada um foi importante na sua vida. Aproveitam o grande número de pessoas reunidas para organizar um grande evento, que precisará ser melhor que os eventos de final de ano, afinal, vamos combinar, é uma festa de Final de Mundo, precisa ser do caceta. Os jornalistas, informados, já sabem o dia exato do fim do mundo há muito tempo, e vão se esconder nos seus bunkers individuais, previamente construídos, onde organizaram suprimentos de livros e uma videoteca do Antonioni. Os publicitários ficam desenhando.

Numa revolução: 
Os jornalistas se polarizam, alguns defendendo com todos os argumentos a revolução, outros chamando os revolucionários de tudo, de fascistas até rameiras do Lênin; depois, são contratados pelo jornal de ideologia contrária e mudam completamente de opinião. Os RPs se botam na frente dos tanques, distribuem flores numa ação de imagem previamente planejada e pedem que todos se deem as mãos. Os tanques passam por cima deles. Os publicitários ficam desenhando.

Num enterro:
O jornalista comparece, demonstra seu respeito pelo defunto, depois olha a toda hora para o relógio, perguntando-se se pega mal sair muito cedo. Para matar tempo, fica discutindo sobre Cuba com seus colegas. O RP chora compulsivamente, depois pergunta se haverá algum evento organizado para depois do velório. O publicitário chega atrasado, pergunta o nome do defunto por quatro vezes, fica confuso, pensando se está no velório certo, e então se retira para um canto. Possivelmente para ficar desenhando.

Num jogo de pôquer:
O RP fica dizendo que não gosta de jogar, porque não sabe mentir. Mas isso é uma mentira. O jornalista faz pacto com um dos adversários previamente, depois o sacaneia, pega todas as suas fichas e ganha o jogo. O publicitário se pergunta por que ninguém fez canastra ainda.


Numa estreia de cinema:
Os RPs riem (ou choram, depende do filme) alto, e conversam no meio do cinema, para descontento do jornalista, que está vendo o filme sozinho, num assento próximo, e odeia que atrapalhem o seu processo de imersão na película. O publicitário acha o filme muito bom, mas gostaria de ter chegado na hora para ver o início.


Numa entrega de trabalho:
O jornalista faz o trabalho correndo, na madrugada do dia da entrega, movido a café. O trabalho fica bom, mas ao entregá-lo ele acaba por não notar a mancha de café na capa. O RP faz um trabalho com o dobro de folhas que o professor pediu, e escreve um recadinho para o mestre desculpando-se caso ele ache que faltou alguma coisa. O publicitário não faz o trabalho.

Num perfil de Orkut:
Jornalista: foto de perfil em preto-e-branco, humor seco/sarcástico, citações de escritores europeus na descrição do perfil.
Publicitário: lista de música/banda preferida com cinquenta bandas indie que ninguém ouviu, álbum de fotos com todos os tipos de cabelos que já usou.
RP: dois perfis lotados.

Eu acho que deixei claro o meu ponto.

8 comentários:

  1. Nhaaa, serei pobre, não sei desenhar!
    hahaha e tenho certeza que se eu, futura publicitária, escrevesse um texto "avacalhando" com jornalistas tu escreveria um contrapondo tudo. Sim.
    mas de todo o texto generalizado, quando tu fala do perfil do orkut é muito engraçado, foi certeiro!
    (:, Tami

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  2. Que vontade de te dar um tapa bem dado, que estranho... Bom, odiei teu ponto de vista. Ou tu não sabe absolutamente nada de RRPP ou se faz de ignorante. Mas opa! Esqueci que tu sabe sim... Sabe que RRPP organizam eventos. Pesquise antes de falar qualquer bobagem, jornalista.

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  3. Isso é um resumo de alguém que não sabe nada sobre comunicação.
    É... alguém realmente tem que ir pro Irã.

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  4. É, acho que vou ter que pintar o meu cabelo de castanho pra disfarçar a minha mediocridade. Tu vai acabar sozinho, sem amigos e com os teus livros franceses, se continuar falando o que não sabe. Aliás, pra quem tá no 2º semestre e já ta se achando jornalista, tu é bem pretenciososinho, hein?
    Mas nao vai fazer diferença se as pessoas não falarem contigo, tu é muito superior mesmo.

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  5. Cuidado com os preconceitos meu amigo. Eu sei que polêmica chama a atenção, mas não generalize. E esqueceu de dizer que os publicitários ganham mais dinheiro.

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  6. Eu entendi que tu quis fazer um texto satírico, tirando sarro dos estereótipos que se tem de cada curso, sem necessariamente estar tomando uma verdadeira posição sobre isso... Mas sabe como é, foi o que te disse, blogs são meios de comunição bilaterais e a palavra escrita tem muito mais força e relevância do que as apenas proferidas, que se desfazem pelo ar, geralmente sem obter visibilidade.

    Talvez, tenha ocorrido um problema de comunicação na expressividade, mas quando publicamos idéias, conceitos e divagações internas, às vezes acarretamos opinões contrárias pois estamos sujeitos ao ponto de vista e interpretação livre de outrem. Mas na próxima é bom revisar e questionar o que for postar. Na hora eu li e tomei um pouco das dores pelos outros e pela profissão, mas depois tu me esclareceu e compreendi.

    Abraço!

    Abraço!

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  7. Ô Giordano, por favor né.
    que palhaçada é essa de que publicitário só fica desenhando e RP só organiza evento. E claro, jornalistas, seres superiores, andam sozinhos, fazem tudo em cima da hora e de forma perfeita. Leem livros, veem filmes, são super cult, vivem sozinhos, são inteligentes, e obviamente só podem se relacionar bem com outros jornalistas que são quem detém todo o conhecimento da terra.
    Com certeza a escolha do curso reflete interesses particulares, e eles têm, sim, algum padrão. Mas agora, porque ALGUNS jornalistas são bem informados a respeito dos acontecimentos políticos e econômicos, dizer que não se pode conversar sobre nada relacinado a esses assuntos com um RP ou PP, é muita arrogância da tua parte.
    Gostaria de relembrar, que publicidade é o curso mais concorrido no vestibular de comunicação da puc, e um dos mais concorridos do vestibular inteiro da universadadi! E isso sim, o torna mais difícil, afinal, tu tem que ser melhor do que muito mais gente pra conseguir a vaga. E quanto a UFRGS, bom, esse não é o assunto, já que ninguém conseguiu passar, né?
    Entendo que o intuito era ser engraçadinho, e foi, admito; mas esse tipo de generalização não se faz, ofende. Se tu fosse jornalista - não esquece que ainda é apenas estudante - tua carreira estaria comprometida agora, e com bastante gente. Sabe, em RP chamamos isso de crise de imagem, uma das coisas que podemos fazer na carreira é gerenciá-las, além de organizar eventos. Se tu tiver interesse em saber mais, pode procurar qualquer RP pra conversar, com certeza todos nesse momento vão estar falando de um assunto que deveria ser do teu interesse - fora a recusa do Irã à proposta de enriquecimento de urânio.
    Elisa.

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