quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O lado vencedor

Estávamos eu e meu amigo Lucas Costa fazendo o que fazemos de melhor: discutir. Desta vez sobre ideologias: ele tomando o lado do capitalismo, eu do comunismo. Apenas um debate saudável, nem eu nem ele somos radicais nas nossas posições, mas o negócio acabou evoluindo de forma acalorada. Para encerrar o debate, O Lucas disse uma frase que até hoje não desceu pela minha garganta: "bom, pelo menos o capitalismo funciona". Na hora não quis replicar, pois a discussão estava se encaminhando para o final e despejar meus argumentos naquela hora significaria começar toda a briga de novo. Mas eu tenho algumas palavrinhas para dizer sobre isso. Ah, e como tenho.
Primeiro, é comum inferir no erro de que o lado que vence é o certo. Afinal, por que outro motivo ele seria o vencedor? O fato de o capitalismo ter triunfado na Guerra Fria não é de modo algum uma garantia de que ele é funcional, significa apenas que o comunismo acabou caindo antes. E não vou entrar no mérito do comunismo aqui: não estou defendendo o seu lado, mas sim apontando as falhas do outro. Há uma diferença. Pois bem, com o fim da Guerra Fria começou a era da globalização e o mundo se tornou uno. Um planeta, sob jurisdição de um mesmo sistema econômico. Na teoria, o que deveria acontecer é que a livre circulação do capital não por um país, mas por um planeta inteiro, deveria trazer benefícios para todas as nações. Com as economias ligadas, o aumento no capital, digamos, nos EUA, para pegar como exemplo a nação mais forte, deveria repercutir nas economias de todos os países ligados em sua economia. Por quê, então, desde os anos 90 a diferença entre as nações mais ricas e as mais pobres aumentou ao invés de diminuir?
Agora, ao contrário, um crash na economia estadounidense repercute por todo o mundo, trazendo prejuízos em todas as nações por meio de uma teia de economias interdependentes em que os benefícios não são repassados, mas os prejuízos, em maior ou menor grau, afetam a todos.
O Papa João Paulo II, segundo Lech Walesa o grande responsável pela queda do Muro (vide post anterior), disse certa vez que o comunismo era uma árvore podre, ele só sacudiu-a para que caísse de vez. Um sistema com crises cíclicas de proporções mundiais também é, na minha concepção, uma árvore podre. Os pobres países da África, que após séculos de exploração como colônias viam agora um avanço substancial em suas economias, levaram uma rasteira com a última crise. Como é esperado que eles alcancem as nações mais desenvolvidas tendo que aguentar uma crise dessas a cada século? Onde está a justiça?
Agora, isso é pequeno, muito pequeno se comparado com o pior lado do capitalismo. Há uma faceta muito mais terrível. O capitalismo em sua forma atual não é só falho, ele é, a longo prazo, perigoso.
Lembrem-se que um conceito básico do capitalismo atual é que o lucro vem acompanhado do crescimento, e não há como aumentar o lucro sem desenvolver-se. Na hora em que o capital estanca, o negócio para de funcionar. É preciso que ele se multiplique, gerando o lucro e o crescimento consequente, e mais lucro, e mais crescimento, e mais lucro... ad infinitum. O problema é que vivemos num planeta com recursos limitados. Não há como crescer infinitamente com os recursos finitos da Terra. Não há como frear o crescimento, também, pois um mercado estanque significa a falência da empresas. Não há como crescer mais, e não há como parar. Estamos condenados a chegar a um limite, e estamos nos aproximando dele a passos largos. Assim que o cruzarmos, o caos: crise, desemprego, sem contar problemas ambientais gerados pela exploração agressiva dos recursos naturais, o que tornaria algumas regiões inabitáveis. O capitalismo não funciona. A bem da verdade, funciona tão mal que condenou a todos nós a um futuro totalmente incerto. Se não houver reformas profundas em nosso sistema nos próximos 50 anos, a nossa geração já irá acompanhar essa derrocada. Tem gente que tem medo de 2012. Não tenham: economia é uma coisa bem mais assustadora.

Um comentário:

  1. Opa, alguém aí falou meu nome?

    Bem, não lembro de ter dito algo do tipo "o capitalismo funciona" ou qualquer coisa nesse sentido(talvez "o comunismo não funciona"? Só Deus sabe).

    Tudo bem, talvez eu tenha dito. Mas com a mais pura intenção de causar POLÊMICA, APIMENTAR o debate, SUSCITAR discussões, ou coisa parecida. Ou pra arrancar risadas dos presentes. (Na verdade o que eu queria ter feito era bater na mesa, me levantar e começar a cantar: "ÊTA! Êta, êta, êta, ê-TÁ! É a lua, é o sol, é a luz de Tiêta-êta-êta!" Acho que aí não correria o risco de ser mal-interpretado.) Não me levem tão a sério, por favor.

    Enfim, acho que tu tens razão ao dizer que o sistema atual precisa de reformas. Sou otimista quanto a isso, acho que encontraremos um meio-termo saudável entre os dois extremos que citaste (o comunismo e o capitalismo NÊMESIS ENGOLIDOR DE MUNDOS OH MEU DEUS VAMOS TODOS MORRER PENSEM NAS CRIANCINHAS... tá, tudo bem, desculpa). O próprio ideal democrático da troca de poderes já prevê isso: uma alternância de governos mais preocupados com questões sociais com outros mais ligados à questões econômicas.

    Democracia que é o que falta em muitos países africanos. É fácil encontrar um só culpado para todas as mazelas sofridas pelo continente-mãe. Penso que seria mais correto dizer que um conjunto de fatores (externos e internos) atua nesses lugares: histórico de colonialismo e exploração, falta de organização política, guerras, instituições desorganizadas, corrupção... O Brasil mesmo é um exemplo de país (emergente, ainda por cima) que não foi atingido de maneira significativa pela crise. Talvez por ter uma política interna até certo ponto estável, uma economia diversificada etc...

    Aliás o Brasil é um bom exemplo pra essa discussão: mesmo tendo um governo de esquerda (com precoupações sociais -- nem tanto AMBIENTAIS), conseguiu desenvolver-se ao adotar uma postura mais LIBERAL na economia.

    É, acho que falei demais. Mas o que eu queria dizer é que concordar é superestimado, cara. A discussão gera atrito, que gera movimento. Ave Eris! Ave discórdia!

    Vou ali na esquina comprar armas e mantimentos para estocar quando o fim da CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL vier. Até lá.

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