terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Sobre meninas e lobos (e vampiros)

Sim, eu admito, eu vi Lua Nova. Sem ter sido arrastado ao cinema por alguma mulher. Tem que ser muito macho para admitir que se viu Lua Nova sem a influência do sexo feminino. E tem que ser duas vezes mais macho para admitir que viu o filme duas vezes. Sim, eu vi o filme duas vezes. Aceitei ir de novo acompanhando uns amigos que ainda não o tinham visto. Amigos homens. Que não deixaram de ser homens por ver o filme. O meu interesse era puramente antropológico, diga-se de passagem. Queria ver qual é a dessa onda de Crepúsculo que está aí pela mídia. Sou um comunicador, afinal de contas. Trabalho puramente profissional, essas coisas.

Digo que é preciso ser macho para admitir isso porque trata-se claramente de um filme voltado para o público feminino. Mais especificamente, para garotas de seus 14 anos de idade. Como sei disso? O vampiro brilha na luz do sol. Ele não morre, não vira cinzas, ele brilha. Importante dizer que ele não é feio, também. Ele tem aquela beleza meio metrossexual com cara de vômito que faz sucesso hoje em dia. E há uma tribo de lobisomens bombados alérgicos a camisetas. Temos então o vampiro mais magrinho e maquiado e o lobisomem forte e musculoso. Tem pra todos os gostos.

Os dois arrastam asa para a mesma mulher, a tal da Bella, fazendo juras de amor eterno e desnudando seus torsos na frente dela. A colega de um amigo meu, e isso é verdade, disse que teve um orgasmo enquanto assistia ao filme. Um orgasmo. Não sei em que cena foi, mas suspeito que envolveu algum torso desnudo. Não ouvi mais histórias de orgasmos no cinema, mas de caras que levaram a namorada e tiveram que ouvir ela gemendo cada vez que os mocinhos apareciam em tela tem várias. Pobres namorados. Não bastasse serem obrigados a ver o filme, ainda têm que passar por isso.

***

Dá pra ver que a história é trabalho de uma mente feminina só olhando para os personagens. Não existem homens assim na vida real. O tal do vampirinho, o Edward, diz que ama a Bella, mas não pode chegar perto dela pois tem medo de não se controlar e sugar seu sangue. Tá, mulheres, desculpem, mas isso não existe. Como ele conseguiria aguentar um relacionamento onde é um sacrifício trocar uns beijinhos que sejam? Nenhum amor resiste a isso. Essa coisa de promessa de amor eterno também é difícil de engolir. Ainda mais amor eterno sem aproximação física.

É claro que esse Edward pode estar sendo um baita de um esperto. Sendo um imortal, ele não transforma a mocinha num vampiro justamente por não querer ficar pra sempre carregando aquela mala junto dele. Imagina, e quando ele enjoar? Uma eternidade demora um bocado. O que fazer? Melhor ficar enganando a mocinha, fazendo juras de amor eterno, sabendo que daqui a um século ela vai estar morta e ele ainda vai estar na flor da idade, pronto para enganar mais uma jovem inocente.

- Bella, eu te amo, eu poderia te amar pra sempre...
- É isso! Então me faça viver pra sempre! Me transforme numa vampira e viveremos juntos por toda a eternidade!
- Hm, ah, pois é... sei lá, acho que não é uma boa ideia... viver pra sempre não é tão legal assim...
- Ah é?!
- Ah, sim. Esperimente passar um século com a mesma dentição. Chega uma hora em que não há tratamento dentário que resolva.
- Puxa...
- Quem sabe a gente pensa nisso depois? Ano que vem... ou próxima década, talvez. Eu poderia te amar pra sempre, mas vamos com calma...

Quanto ao problema da falta de sexo... nada que umas saídas às escondidas não resolva.

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A autora errou ao retratar os homens, mas com as mulheres ela acertou direitinho. A personagem do filme, ao ser abandonada pelo amor de sua vida, vai buscar consolo nos braços (musculosos) do lobisomem. O coitado fica todo esperançoso, pensando que vão ficar juntos, aí o vampiro volta e a mulher dá um pé na bunda do pobre lobinho. Típico.

Ela estava mal, se sentindo desprezada, aí ficou dando esperanças falsas para um cara que realmente gostava dela. Algumas mulheres, quando levam um pé na bunda, procuram alguém que lhes levante a autoestima novamente. Mas eles só servem pra isso: levantar a autoestima. E é sempre assim, elas ficam ao redor desses caras, se sentem bem de novo, prontas para acordar para a vida, aí bam: o cara que descartou elas dá mais uma chance e elas voltam correndo. E os homens que são jogados fora, como ficam os sentimentos deles?

Na boa, eu não tenho nada contra esses Crepúsculos, Lua Nova ou raio que o parta, mesmo, mas me preocupa a sua influência na mente das meninas de hoje em dia. Primeiro: elas vão correr atrás de um cara que não existe. Quanta decepção isso irá gerar na vida delas, quantos romances frustrados! Segundo: o mau exemplo com essa história do lobisomem. Sim, pois essas meninas se identificam com a personagem, e passam a agir como ela, inclusive copiando o seu comportamento. Tem uma fala no filme que a Bella diz algo como "não me faça escolher entre vocês dois, porque será ele". Referindo-se, é claro, ao vampiro purpurina. O quê? Depois de passar o filme inteiro se esfregando no lobinho, ela tem coragem de dizer isso, na cara dele? Essa aí, perdoem a sinceridade, não é nem um lobo nem um morcego, é uma vaca.

2 comentários:

  1. Nossa, achei muito bom, e concordo com praticamente tudo...
    o filme eh mto bobinho, e a uncia coisa de boa realmente foi o lobisomen hehehe
    jura que eu ia pensa naquele vampirinho branquela, magricela e meio afiminado com aquele morenao apaixonado por mim do meu lado? soh em filme mesmo....
    e tbm acho muito ridiculo eles não se tocarem, nao existe relacionamento assim... o filme parece quase infantil, nao adolescente...

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