quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Lição de casa

As geleiras estão derretendo, mas as negociações de Copenhague congelaram. Em compensação, as manifestações estão pegando fogo: ontem, ativistas tentaram adentrar na sala de discussões de forma a transformar a reunião da cúpula numa assembleia pública, com participação direta do povo. A polícia reprimiu os avanços dos manifestantes, que não conseguiram realizar seus objetivos. Apesar de a participação da sociedade ser de grande importância na tomada de decisões relevantes para o futuro do mundo, a confusão gerada pela invasão dos manifestantes aos quarenta e cinco do segundo tempo iria enredar ainda mais uma situação que já está mais enrolada que novelo de lã.

Para quem anda por fora do assunto, eu estou falando da COP 15, conferência que está em seu penúltimo dia e que tem como objetivo traçar metas para a política climática mundial, e que, por sinal, não está chegando a consenso algum. Antes do início desta, a Dinamarca (país sede da conferência), os EUA e a China já haviam assinalado que a cúpula serviria só para discutir o problema, e não para definir números de redução, o que já anularia o principal motivo de sua realização. Infelizmente, nem para traçar alguns pontos básicos ela está servindo: apesar de (ponto a favor) ter sido decidida a criação de um fundo internacional de ajuda a países pobres para que reduzam suas emissões de CO2, não ficou decidido quem irá contribuir (Brasil e China não querem, alegando que também são países pobres) nem quem irá receber seus benefícios (novamente, Brasil e China o querem pois alegam que são países pobres). Mas o que realmente entravou as negociações foi a polarização entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Os países pobres se eximem do compromisso de reduzir suas emissões, alegando que historicamente a culpa é dos ricos. Os países ricos se comprometem a reduzir suas emissões, mas cobram dos pobres que façam o mesmo.

É mais ou menos isso. E é assim que nos encaminhamos para o último dia de cúpula. Está claro pra mim que a Dinamarca tinha razão em não querer fazer um tratado formal ainda. Se feito agora, vai estar cheio de furos e questões mal resolvidas, e, na prática, irá servir só para os líderes mundiais mostrarem para o mundo que a reunião não foi um fracasso. Falando nos líderes, estes deixaram para aparecer só nestes últimos dias de cúpula, para dar uma olhada no texto final elaborado por diplomatas e dizer se concordam ou não. Alguns, como o Barack Obama, perigam nem aparecer.

Pensando agora, é meio idiota que o mundo tenha marcado uma data para assinar o tratado sem ter discutido antes sobre o assunto. Como é que ninguém nunca pensou que a situação fosse complexa demais para se resolver na hora? Há muitos problemas nesses dois últimos dias que terão de ser acertados literalmente em cima da hora. Esse tratado, em vez de uma solução, virou um problema. Virou uma lição de casa que os líderes mundiais deixaram para fazer na noite de domingo. Será feita às pressas, algumas questões ficarão em branco e várias incompletas. Será o suficiente para ganhar uma boa nota? Tudo indica que não. Vamos torcer para que a próxima reunião, ano que vem no México, possa servir como um trabalho de substituição.

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