quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A calcinha

O sinal já havia batido mas a Bia nem queria saber de subir para a aula. Estava contando para as amigas sobre como o Rafa era um cretino, sacana, enganador, duas caras, mentiroso... os adjetivos não paravam de brotar. Às vezes na mesma frase:
- Não acredito que caí na conversa daquele cretino sacana, daquele enganador, daquele duas caras mentiroso...
As amigas ouviam e balançavam a cabeça, concordando. Ele era mesmo. Para ter feito aquilo que a Bia disse que ele fez, só podia ser tudo aquilo.
- Aquele safado sem-vergonha... acha que pode brincar comigo, o traíra enganador, falsário... - seguem-se mais adjetivos pejorativos. Alguns não publicáveis.
A Bia repetia e repetia a história, que o Rafa a usara, que prometera amor incondicional, que disse que ela era importante para ele... fez com que ela confiasse nele (o maldito!), até que, naquela noite, depois de ela relutar muito, depois de ele insistir muito, dizendo que iria respeitá-la, que se importava com ela... naquela noite ela concordou, finalmente, em entregar-se para ele, e tiveram uma noite juntos, e ela o amou intensamente... para o quê, para o quê mesmo?
- Para ele me jogar fora no outro dia! - disse ela, e ameaçou chorar outra vez.
A Jé passou a mão na cabeça da amiga, dizendo "não chora, não chora", enquanto a Deia pegava a mão da amiga e dizia "chora, chora que passa...".
- Mas ele vai ver, - dizia Bia - um dia ele vai ver a canalhice que fez e vai correr atrás de mim, pedindo perdão, e eu vou dizer não mesmo, cachorro, vira-lata de uma figa...
Como que por mágica, nesse exato momento o Rafa aparece diante das três, com a sua mochila nas costas e uma cara séria no rosto, o qual usualmente carregava sempre uma expressão divertida.
- Bia, quero falar contigo. - disse ele, bem sério.
A Bia olhou para as duas amigas com um olhar de triunfo. Depois olhou para o Rafa e disse, na voz mais indiferente que conseguiu fingir:
- Ah é?
- Sim, preciso falar contigo. Pode ser?
- Fala, então. O que é?
Ele olha para as duas amigas da Bia.
- Pode ser em particular?
Bia solta uma risadinha.
- Por quê? É alguma coisa séria que você quer me dizer? Diz agora.
- Eu realmente acho melhor que isso seja em particular...
- Ah é? Eu estou muito bem aqui. Qualquer coisa que você disser, as minhas amigas podem ouvir.
Isso, se humilhe na frente delas, pensa Bia. Peça perdão, cachorrinho. O Rafa olha sem jeito.
- Tem certeza?
- Ah se tenho.
O Rafa dá de ombros. Então abre a mochila e tira dela uma calcinha rosa com os dizeres "Lick me!" em letras emendadas douradas, e uma abertura no tecido logo abaixo dessas palavras.
- Você esqueceu isto lá em casa. - e atira a calcinha para a Bia, que observa atônita ela pousar no seu colo, a abertura na calcinha escancaradamente aparente. - Era isso. Agora eu vou pra aula, que eu tô atrasado.
Ele vai embora e deixa Bia paralisada, com a calcinha ainda na mesma posição em que pousou. Ela então olha para as amigas, as duas de olhos fixos na calcinha. Pois uma calcinha assim não é uma calcinha qualquer. É uma calcinha de alguém que espera sexo. É uma calcinha de alguém que planejou antecipadamente o momento do sexo para poder usá-la, e certamente não de alguém que foi convencida relutantemente.
- Eh... eu posso explicar. - disse Bia às amigas.
Mas elas disseram que a explicação ficava pra depois. O sinal já tinham batido, olha só a hora, elas tinha que subir logo. E saíram depressa, deixando Bia e a sua calcinha sozinhas.

Um comentário: