terça-feira, 13 de outubro de 2009

A nossa governadora

Deve se admitir que a nossa governadora tem bom gosto. Aquele pufe da Tok&Stok comprado com dinheiro público é o máximo em conforto e design. Eu sei porque eu o vi uma vez em que fui à loja. Não resisti e experimentei. Muito confortável. Não dava vontade de levantar. Só não comprei porque era caro. Não ia gastar o meu dinheiro naquilo. A governadora não se sentiu tão acanhada: gastou o meu dinheiro e comprou o pufe pra ela.
Bom, o pufe não ia ficar tão bem na casa sem alguns móveis para combinar. Não que isso tenha sido um problema: a Excelentíssima tratou de comprar alguns armários e um sofá-cama para ajeitar a residência. Sabem como é, tudo pelo feng-shuy: não se pode deixar a casa mal-arrumada, bloqueia o fluxo de energias. E não se pode bloquear o fluxo de energias num lugar onde são tomadas decisões que afetam todo o estado. As consequências poderiam ser desastrosas. Viram só? As compras foram bens necessários para o exercício do mandato. Tudo se justifica no final.
E que maravilha de pessoa, a nossa governadora, que aproveitou a sessão de compras para mobiliar também o quarto dos netos! Ah, que mimo, a nossa governadora ama os netinhos. É claro, as crianças são o futuro. Tudo de melhor para elas. Elas merecem. E quais crianças são melhores para receber investimento de verba pública senão as da própria família da nossa governadora? Quem sabe, depois pode sobrar um pouco para as crianças carentes, também. Mas isso se vê depois de comprar os móveis. Tudo a seu tempo.
Como se vê, tudo na história das compras é justificado. Agora, quanto ao processo de improbidade administrativa eu não sei bem. A comissão do impeachment quer arquivar o processo. Ufa, que bom. Deve ser porque a nossa governadora é inocente. Que susto, toda aquela campanha do Fora Yeda, todos aqueles outdoors com a cara da nossa governadora e escrito ao lado que era a face da corrupção, fazia a gente até pensar que ela era culpada de alguma coisa mesmo. Ainda bem que ficou tudo esclarecido. Quer dizer, não sei, pra mim não ficou. Mas para a comissão ter tomado essa decisão, eles devem saber mais do que eu. Vai ver eu é que sou burro e não entendi.
Outra coisa que eu não entendi é por que quem decide o impeachment não é um órgão da Justiça. Pode ser viagem minha, mas se a nossa governadora está sendo acusada de um crime (da qual foi provada inocente, senão não estariam arquivando o processo), ela não teria que ser julgada por um tribunal como qualquer pessoa normal? Eu não consigo entender porque esse julgamento cabe aos políticos e não à Justiça. Acima disso, não consigo entender por que essa decisão cabe aos políticos aliados da nossa governadora. Para os meus olhos de leigo, parece improvável que ela seja declarada culpada por um tribunal formado por seus aliados. Devo ter perdido parte da explicação. Que chato, não entender de política. A gente tenta acompanhar, mas fica confuso. Ainda bem que tudo foi esclarecido, no final. A nossa governadora é inocente, foi tudo uma confusão! Uma confusão que eu não entendi, mas azar, agora já passou.
A única coisa que eu fiquei brabo é de que eu não pude ser consultado sobre as compras da governadora. Ora, o dinheiro é meu também, os móveis são propriedade do estado. Pelo menos deixa eu ajudar a escolher! Verde kiwi é legal, mas eu queria ter dado uma olhada nas outras cores de pufe que a loja oferecia. Bom, pelo menos a única coisa que estão me privando é de escolher a cor da mobília. De resto, o povo ainda tem o poder. Ainda bem.

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