sábado, 1 de agosto de 2009

Aqui e lá

Vivemos um período pós-ditadura, mas mais uma vez a nossa imprensa sofre censura. Dessa vez, está envolvido o homem do momento, José Sarney. Ou melhor, o filho dele, Fernando, empresário e aprendiz de cara-de-pau. O filho do homem conseguiu, vejam só, proibir o jornal O Estado de São Paulo de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica, que investiga crimes eleitorais. Sarneyzinho ficou ofendido com o fato de o jornal ter publicado as ligações telefônicas entre membros de sua família, que revelaram a contratação de parentes do presidente do Senado. Segundo ele, isso fere a honra (que honra?) da família, e agora o jornal terá que pagar multa de 150 mil reais para cada reportagem contendo informações sobre a operação. Os demais jornais e rádios estão proibidos de usar ou citar material do Estado de São Paulo.
E fica mais podre ainda: o desembargador que aprovou a censura é um velho amigo do clã Sarney e de Agaciel Maya, tendo sido inclusive convidado para o casamento da filha deste último.
O jornal está recorrendo da medida, mas até lá terá que ficar calado sobre o assunto. É isso mesmo, amigos, censura na imprensa em pleno século 21. Fernando Sarney alega que está tentando preservar a honra da família, mas ao meu ver o fato de estar pedindo para um jornal ser censurado é apenas mais um argumento para ser usado contra os Sarneys, e mais uma propaganda negativa para o seu pai. Má propapanga por má propaganda, melhor ter deixado como estava.

***

No outro hemisfério, Barack Obama deu um puxão de orelha na polícia de Cambridge, por ter prendido o professor Henry Louis Gates, quando este estava arrombando a própria casa. A polícia se sentiu ofendida e retrucou. Obama, no seu famoso tom conciliador, convidou o sargento James Crowley, o homem que prendeu Gates erronamente, mais o próprio Gates e o vice presidente Joe Biden para tomar uma cervejinha na Casa Branca, numa atitude que eu achei super legal. Interessantemente, algumas pessoas não acharam o mesmo: manifestantes abstêmios ficaram protestando do lado de fora da casa por haver álcool envolvido no encontro. Também houve criticas pelo fato do presidente americano ter tomado uma cerveja Bud Light, fabricada pela belgo-brasileira Imbev, e portanto não uma cerveja americana. Até a vizinha de Gates, pivô da confusão, já que foi ela que chamou a polícia quando viu o vizinho arrombando a própria porta, chiou por não ter sido convidada, no que o seu advogado classificou como preconceito sexual.

Ah, por favor!

A vontade era de dizer para esse pessoal algumas palavras que não transcreverei aqui, pois não quero baixar o nível. Era uma conversa com cerveja mesmo, qual o problema? A cerveja estava lá para assegurar o tom informal do encontro, justamente para mostrar que não se deve ser sério o tempo todo. Para mostrar que a situação não era nada que não pudesse ser resolvido numa conversa amigável. O negócio da cerveja não ser americana é patriotismo estúpido, do tipo que já deveria estar extinto. E a declaração de que Obama é sexista chega a ser quase risível, não fosse o fato de que tem gente que a leva a sério. Eu queria fazer um acordo com esse pessoal: vamos trocar o Obama com o Sarney, aí vocês aprendem o que são razões para reclamar.

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