sábado, 22 de agosto de 2009

O Augusto

O Augusto era um cara bacana, mas muito travado quando o assunto era mulher. Seus amigos se reuniam e contavam seus casos com a mulherada, e o Augusto ali, quieto. Era muito tímido. Não tinha coragem de chegar numa menina, ficava sem graça. Os amigos tentavam ajudá-lo:
- Vai lá cara! Chega nela! O máximo que vai acontecer é ela te dizer não...
- Não sei... vocês sabem como eu sou...
- Ah, cara! Você se preocupa demais! Vai lá agora e seja homem!
- Tá, tá...
E o Augusto ia e acabava se dando mal. Travava mesmo, se enrolava com as palavras. Esse era o problema: vontade de mudar ele tinha, mas simplesmente não conseguia. Os amigos se irritavam no início, mas depois perceberam que não era só falta de coragem, era um problema maior do que ele. Algumas pessoas tem dificuldade de pronunciar os erres, outras de falar com mulheres. E, por mais que o Augusto quisesse mudar, não conseguia. Os amigos entendiam isso e se compadeciam de seu caso. Todos faziam planos para ver o Augusto com uma mulher, mas eles sempre falhavam; o Augusto sempre estragava tudo na hora H.
- Pô, Augusto!
- Desculpem, caras.
- Tava tudo indo tão bem...
- Eu sei, eu sei...
- Pra que vomitar no vestido dela?
- Justamente porque tudo estava indo bem! Fiquei nervoso, ué.

Dessa vez tudo tinha que dar certo. Os amigos do Augusto organizaram uma festa, cujo propósito girava em torno de fazer o Augusto ficar com a Aninha. A Aninha foi uma descoberta. Foi o Leandro quem descobriu que a Aninha achava o Augusto bonito. Investigou mais um pouco e descobriu que ela ficaria, sim, com o Augusto, se pintasse a oportunidade. Anunciou a descoberta aos amigos com a alegria de um biólogo que comunica aos seus colegas que o dodô, afinal, não estava extinto. O Augusto tinha salvação. Era só garantir as condições propícias para que os dois ficassem, e garantir que o Augusto não fizesse uma das suas. Pensaram tudo com cuidado, se sentindo como os militares que planejaram o desembarque do Dia D. O próprio Leandro ficou de organizar a festa para o próximo sábado, e avisar o pessoal. Era preciso garantir que o Gabriel pudesse comparecer. O Gabriel era o antigo caso da Aninha. Em todas as festas, ela tentava fazer com que ele sentisse ciúmes ficando com outros caras. O Gabriel nem ligava, mas ele seria útil para o plano.
O Augusto chegou na festa acompanhado de seus amigos. Cumprimentou o Leandro.
- E aí, Augusto, beleza?
- Tudo ótimo... tudo ótimo mesmo... tudo na mais santa paz...
O Augusto parecia meio estranho. Leandro resolveu perguntar para o Fábio:
- Tá tudo bem com ele?
- A gente botou uns calmantes na bebida dele... sabe, pra ele não ficar nervoso.
Explicaram a situação para o Augusto. Foi muito mais fácil do que o normal, com ele dopado. A Aninha iria chegar a qualquer instante. Iriam puxar conversa com ela e depois sair de fininho, deixando-a falando a sós com o Augusto. Deram-lhe a recomendação de não falar muito. A Aninha falava bastante, era só ele responder com monossílabos e frases curtas, e talvez alguns gestos e expressões faciais.
- Peraí, expressões faciais? - disse o Cadú.
- É. Levantar as sombrancelhas, fazer caras de espanto, interrogação. Economiza frases e diminui as chances de o Augusto falar bobagem.
- Tá, mas desajeitado como ele é, só vai conseguir fazer caretas.
- Tá, esquece as expressões. Mantenha-se nos monossílabos.
O essencial era não falar muito. Iria fazer o tipo caladão misterioso.
Chegou a Aninha. Primeiro foram uns dois junto com o Augusto puxar conversa com ela. Assim ele não se sentia tão pressionado logo de início, tendo que ficar sozinho com a Aninha. Falaram bastante do próprio Augusto:
- E aí, Marco, conseguiu a vaga no time do colégio? - perguntou a Aninha.
- É, até consegui, mas só porque o Augusto não quis tentar a vaga. Senão eu estaria fora.
- Sério? O Augusto joga bem?
- Joga bem? Rá! O cara é um monstro do futebol! Nos joguinhos que a gente faz eu só jogo se for no time dele. Senão, eu já desisto antes de entrar em campo.
- É mesmo? Nossa, Augusto, por que você não tentou pegar a vaga?
O Augusto soltou um grunhido que poderia significar várias coisas. O Marco riu e explicou:
- Modéstia.
- Modéstia é o Augusto ter vindo com esse carrinho dele hoje. - falou o Cadú -Eu sei que nessa parte da cidade rola assalto, mas bem que você podia ter vindo com a BMW, hein, Augusto?
- Uau, Augusto! Você tem uma BMW?
- Pois é, né, enquanto ele não consegue coisa melhor...
Aos poucos foram se retirando para deixar o Augusto e a Aninha sozinhos. Dava pra ver que ela estava caidinha por ele. Tocava no braço dele a toda hora, e estavam a uma distância perigosamente próxima. Os amigos observavam, extasiados, enquanto a Aninha falava e falava, e o Augusto respondia com expressões curtas e abanos de cabeça bem calculados. Estava dando certo!
Só faltava um último empurrãozinho. Puxaram o Gabriel para bater um papo em um lugar onde ele pudesse ver a Aninha e vice-versa. A Aninha, ao notar a presença do ex, não teve dúvida: lascou um beijo no Augusto.
O Leandro foi avisar o resto do grupo.
- Pessoal, pessoal! Deu certo! Deu certo!
Todos comemoraram. Alegria! O Augusto finalmente desencalhara. Os amigos se cumprimentavam com abraços de congratulações, como se o Brasil tivesse acabado de ganhar a Copa. O Augusto conseguiu! Que grande feito para a humanidade. Todos bebiam e regorjizavam, enquanto obsevavam Aninha e Augusto juntinhos, mais grudados que gêmeos siameses. Podem beber, que a noite é para comemorar! Enquanto todos bebem e falam alegremente, o Augusto se aproxima do Fábio com uma cerveja.
- Ué? Augusto?
- E aí!
- O que você está fazendo aqui, sem a Aninha? Vai deixar ela sozinha?
- Ah, pois é, a Aninha... sabe o que é?
O Fábio não pergunta o que é. Só sustenta a mesma cara de dúvida e espanto.
- Eu acho que ela não faz muito o meu tipo.
O Fábio não tinha ouvido.
- Oi?
- Ela não faz meu tipo!
O Fábio ficou encarando o Augusto por um momento.
- Como assim, não faz seu tipo?
- Sei lá. Não rolou. Que se vai fazer?
- Volta lá.
- Oi?
- Volta lá. Agora.
- Mas eu disse que...
- Olha só - Fábio colocou a mão no ombro de Augusto e virou-o em direção ao resto do pessoal. - tá vendo o pessoal lá, feliz? A gente tá comemorando. Por você.
- Mas eu não...
- Presta atenção. A vida tá difícil, tá? A Coréia tá com a bomba, o Senado tá uma loucura, o pessoal tá louco com essa epidemia de gripe A... a gente precisa de um motivo pra comemorar, entende? Não faz isso. Não estraga a nossa festa. Volta lá.
- Mas eu...
- Eu acho que você não entendeu... - Fábio apertou o ombro de Augusto com muito mais força. - isso não foi um pedido. Volta agora.
O Augusto olhava assustado para o Fábio. Assentiu com a cabeça e deu meia volta. O Leandro notou que o Augusto e o Fábio estavam conversando. Perguntou:
- O que houve?
- O Augusto veio aqui pegar cerveja - disse o Fábio pro pessoal - e já já está voltando pra Aninha!
Vivas. Gritos de alegria. Risadas. A noite iria ser boa.

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