sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A menina e a mensagem

Nove da noite de uma sexta-feira. Local: Capão da Canoa. Sozinho na cidade, pois todo mundo está no Planeta Atlântida, eu perambulo pelas ruas, bolando um post novo para o blog. Encontro uma lan house que me cobra caros 4 reais por uma hora de escrita. Acomodo-me no computador com o melhor teclado (que já não é lá essas coisas) e ponho-me a escrever. Momentos depois entra uma menina, 17, 18 anos. Espera para ser atendida pela mulher da lan house. Paro para observá-la. Prende minha atenção primeiro pela sua aparência, mas depois por parecer prestes a desabar no choro, acusada pelos sinais de tremulação na sua garganta e um visível esforço para conter as lágrimas. Pede para usar um dos computadores e senta-se próxima a mim.
Ocorrem-me mil pensamentos em por quê ela deve estar triste, e o porquê de procurar um computador numa hora de debilidade emocional. Precisa ver alguma coisa. Talvez checar o e-mail para ver se chegou alguma mensagem. De um homem. Namorado, ou talvez alguém que ela esteja muito a fim? Bingo: a menina abre o seu hotmail e lê uma extensa mensagem, da qual eu estou muito distante para decifrar qualquer coisa. De súbito, a cara de choro se transforma: expõe os dentes para a tela, num sorriso que de quando em quando se alarga ao ler uma ou outra frase. Por uma vez chego a vê-la balançar a cabeça de um lado para o outro enquanto sorri. A mensagem foi boa. A julgar pela sua súbita mudança de humor, a resposta foi ao mesmo tempo boa e inesperada. O cara gosta dela. Talvez tenha havido algum mal entendido, mas o e-mail esclareceu tudo. Deve ser isso, pelo menos.
Ela entra no orkut e responde um scrap, ainda sorrindo. Depois abre mais um e-mail, dessa vez mais curto. Do mesmo cara? Clica para responder. Dessa vez fica mais séria. Leva a mão ao rosto, pensando no que vai escrever. Está prestes a fazer algo que não há volta. Sua resposta decidirá o seu futuro, decidirá... o que mesmo? Não sei, mas deve ser algo bem importante. Escreve frases, às vezes dando pausas, às vezes abrindo mais um sorriso. Fica com a expressão nervosa. Clica em enviar, e depois leva as duas mãos à boca e se remexe na cadeira. Enviou. Agora não tem mais volta. É tomada por um nervosismo, mas um nervosismo bom, de quem sabe que acabou de fazer uma escolha importante, sem volta, mas que está feliz com isso. Ela respondeu para o cara o que sentia. Suspira. Depois volta a ler a mensagem mais curta. Pego-a em determinado momento olhando para o nada, com o mesmo sorriso bobo no rosto, deliciando-se com o efeito das palavras que leu. Depois abre o MSN. Talvez para falar com as amigas sobre o que acabou de fazer.
Seu tempo acaba. Pagou apenas por meia-hora de uso, tempo mínimo. Queria só checar o e-mail, mesmo. Paga bem feliz, e vai embora. Ela está de costas, mas, pelos passos quase saltitantes, penso que está sorrindo. Minha curiosidade me corroi. Pensei por um momento em ir atrás dela e perguntar o que houve, por que estava triste e por que mudou de humor. Obviamente não o fiz: o que ela iria responder para um estranho como eu? Possivelmente nada.
Mas se encontrá-la na rua, não me conterei. Ah, não. Me explicarei do jeito menos estranho possível e cruzarei os dedos para ela entender a minha necessidade voyeurística. Caso isso aconteça, não poderei contar aqui o que houve, pois o meu tempo está acabando. Em breve devo sair da lan house. No fim, nem consegui escrever o texto que pensei originalmente. Mas suspeito que pagarei os 4 reais com muito mais prazer do que se o tivesse escrito.

Um comentário:

  1. Gosto do teu jeito de escrever. Tens muita clareza no teu pensamento e a exposição de tuas ideias é cativante demais! Fiquei triste porque tu não visitaste os meus blogs, ou pelo menos não deixaste nenhuma pista de que apareceste por lá. Um ótimo final de semana!

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