sábado, 6 de março de 2010

Pensamentos sobre o Oscar

Amanhã começa a cerimônia do Oscar 2010 e todos já sabem quem é o favorito. Apesar de ser um remake de Pocahontas com aliens, Avatar promete ganhar nas principais categorias, pelo fato de ser um filme caro. Acho que é só por isso. Não tem nada de revolucionário em termos de roteiro ou construção de personagens. A parte da revolução fica por conta, é claro, das tecnologias usadas não apenas no filme normal, mas em sua versão 3D. Cada frame de Avatar levou 48 horas para ser trabalhado. Isso. Dois dias. E um segundo de filmagem tem 24 frames. Façam as contas. Não é de se impressionar que o filme levou 10 anos para ficar pronto.

A expectativa em torno de Avatar foi grande: por se tratar de uma superprodução, por ser o primeiro trabalho de James Cameron desde o mais bem sucedido filme da história, por demorar uma década para ser feito. Me ocorrem dois casos parecidos no cinema: Waterworld e Apocalypse Now. Apesar de Waterworld não possuir um diretor famoso como James Cameron, com certeza trata-se de um filme de orçamento gigantesco com um longo tempo de produção. Muito por causa de desastres nas filmagens, como a vez em que uma ilha artificial feita especialmente para o filme afundou, no maior fail da história do cinema, e foi necessário fazer outra. Apocalypse Now não difere muito: grandes gastos, problemas nas gravações, muita espera. Compartilha com Avatar a característica de ser dirigido por um grande diretor e com Waterworld os problemas de produção. A diferença é que Apocalypse Now foi um sucesso, e Waterworld naufragou nas bilheterias. Sem trocadilhos.

É certo que Avatar não é um fracasso, mas no futuro, quando seres azuis computadorizados fazendo acrobacias numa floresta computadorizada não impressionar mais ninguém, poderá acontecer de ele passar por uma reavaliação. Talvez chegue-se à conclusão de que os Na'vi não mereciam os prêmios que ganharam. Ou não? O fato de ser um marco tecnológico será o suficiente para mantê-lo relevante na história do cinema, como um daqueles clássicos indiscutíveis que não são mais questionados e apenas reverenciados pela revolução técnica? Você não pode dizer que Cidadão Kane é ruim, mesmo que no fundo ache que seja, pois logo um cinéfilo irá lembrá-lo que ele revolucionou a forma de se fazer cinema, enquanto aponta o dedo na sua cara. Avatar e suas tecnologias subiram o patamar e viraram um referencial para tudo o que virá agora, não na narrativa mas na forma de se experienciar um filme. Nesse aspecto, ele é mais importante do que o já citado e mais aclamado Apocalypse Now, e entra na mesma categoria de Cidadão Kane. Críticos de cinema, por mais que debochem do roteiro pouco criativo e da repetição de ideias, terão que se curvar às suas próprias regras e admiti-lo no panteão de filmes que moldaram a sétima arte. Estarão lá Cidadão Kane, E o Vento Levou, 2001: Uma Odisseia no Espaço e Avatar. Gostem ou não.

***

Disputando com Avatar pelo prêmio principal está Guerra ao Terror, o que é meio suspeito por duas razões: é um filme relativamente velho que não ganhou destaque no seu lançamento e é dirigido pela ex de Cameron. O tema Iraque, apesar de não estar em baixa, estava mais forte no lançamento do filme do que agora. Por que, então, um filme supostamente bom passou despercebido, a ponto de não ser lançado nos cinemas de diversos países? A bem da verdade, as críticas que tenho visto não são maravilhosas, reconhecem a qualidade do filme mas não o colocam no mesmo nível de alguns outros indicados. O que faz pensar que talvez essa coisa de Avatar versus Guerra ao Terror seja apenas para se aproveitar do fato dos diretores terem sido casados. Uma briga de casal para dar audiência é algo que faz sentido. O que não faz sentido é indicarem Amor Sem Escalas para Melhor Filme. Por cima do pano de fundo Crise Econômica, segue a fórmula de uma comédia romântica típica, como inúmeras outras que abarrotam os cinemas e atraem casais para as salas de exibição todos os fins de semana. É o filme mais fraco do diretor, o mesmo de Juno e Obrigado Por Fumar. Este último, na minha opinião, seu melhor filme, superior à Amor Sem Escalas e não mencionado no Oscar de seu ano. E a menina que faz o papel de coadjuvante é fraquíssima. Lembro que pensei ser a pior atuação que via em um bom tempo, e depois descobri que ela está concorrendo ao Oscar! É demais pra mim.

***

Sendo a disputa somente entre Avatar e Guerra ao Terror, e sendo só deles que se fala, não adiantou nada aumentar o número de indicados para Melhor Filme. Não se fala dos outros. Faltando um dia para a premiação, críticos de cinema são convidados para dar sua opinião sobre qual dos dois favoritos irá ganhar. Mas, quando perguntados sobre o seu favorito, a resposta é a mesma: Bastardos Inglórios. É, na opinião geral, o que deveria ganhar Melhor Filme, Diretor, Roteiro e o que mais tiver sido indicado, e não porque é revolucionário (até é), mas porque é muito bom. É bom demais. É muito melhor do que qualquer um dos outros dez indicados. Não tem tecnologia, não fala de um tema polêmico atual, é simplesmente mais prazeiroso de se assistir do que todos os outros. Faz brilhar os olhos de qualquer um que goste de filmes ou de uma boa história. E é o ápice de um grande diretor. Como dito na Zero Hora de hoje, se a Academia deixar de dar o Oscar a Tarantino amanhã à noite poderá cair no mesmo que cometeu com Scorcese: entregar um Oscar compensatório por um filme inferior do diretor muitos anos depois de seu melhor trabalho. Dar o Oscar à Bastardos Inglórios seria dar um tapa na cara da pressão da mídia em nome da qualidade e, de quebra, fazer o Oscar ganhar muito da credibilidade que perdeu ao longo dos anos. Não vai acontecer. Mas não custa torcer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário