quarta-feira, 10 de março de 2010

Aécio e Lula

     Aécio me lembra Collor. Os dois vêm de uma família de políticos, e os dois almejaram a presidência com uma idade relativamente baixa. Do mesmo modo, os dois me parecem se importar menos com o que podem fazer de bom no exercício do mandato e mais com o mandato em si. Aécio teve a sua chance de ser candidato à presidência e perdeu para o Serra. Agora, aberta a possibilidade de ser vice, diz que não irá "nem empurrado". Aécio não se contenta com a vaga de vice. Ainda mais quando se é jovem e tem um futuro cheio de chances de chegar à presidência. Em teoria, é só dar tempo ao tempo, não concorrer a vice esse ano e tentar a candidatura na próxima eleição.
     Parêntese aberto: há alguns fatos para se considerar, que podem provar falha essa lógica. Primeiro que, apesar de Serra estar na liderança, Dilma evolui mais rápido que um Pokémon. Se antes da campanha oficial começar ela já vinha crescendo em ritmo alarmante, agora a coisa vai pegar fogo. Serra fica nessa lenga-lenga de vai-não-vai, de sou-candidato-mas-não-sou, de quero-me-candidatar-mas-vamos-esperar, e Dilma já está em campanha desde antes da campanha começar. Ela é precoce.
     Dilma largou na frente e Serra ainda está pastando. O que isso mostra ao povo? Que ela é a mais decidida. Enquanto Dilma está em tudo que é lugar, Serra fica pra trás, apagado, esquecido pelo povo que não o vê na TV. A não ser que, é claro, botem o Aécio para ser seu vice. A sua popularidade serviria como um turbo e os dois juntos largariam na frente, dificilmente podendo ser alcançados. Serra e Aécio: a dupla dinâmica, unidos para acabar com as forças do mal da ex-esquerda guerrilheira. Não ia ter pra ninguém, nem pra Dilma, mas o Aécio não quer. Prefere deixar o partido perder essa eleição do que se conformar a ser o vice, pois tem certeza de que pode ganhar em 2014...
     ...Que é onde eu abro o meu segundo parêntese. 2014 tem Copa do Mundo, e tem também Lula III. Sim, meus amigos, ele voltará. Ressurgido da cinzas como a fênix, acompanhado pelo clamor do povo, ele retornará, sim, e assumirá o posto que lhe estará reservado na candidatura à presidência da República pelo PT. Velhos irão chorar, comovidos por terem vivido até o dia do Retorno, e massas de pessoas irão se prostar a seus pés. Choverá sangue, talvez, e um ou dois mares irão se abrir.
     Pausa e volta para o presente. Para quem pensa que a sequência é sempre pior que o original, Lula II foi uma surpresa. No final de Lula I, tinha-se a impressão de que as lembranças que restariam daquele governo para a posteridade seriam o Fome Zero e o mensalão. Hoje, ninguém se lembra de nenhum dos dois (embora a Veja tenha dado uma requentada no mensalão essa semana ou na passada, deem uma conferida), não porque o povo se esquece de fracassos, ou talvez não só por isso, mas pelo incrível desempenho da sequência. Se no final do 1º mandato todos ficaram com o pé meio atrás, no segundo Lula conquistou reconhecimento nacional, internacional e extraterrestrial: bateu os 80% de aprovação; foi eleito personalidade de 2009 pela imprensa gringa; foi chamado de "o político mais popular do mundo" pelo político mais popular do mundo. Se eu ler por aí que Lula ganhou o título de "Homem Mais Sexy do Mundo", não vou duvidar. O "Cara" é um fenômeno. E é esse fenômeno que Aécio enfrentará, caso espere até 2014. Pois, se Lula já faz estrago só apoiando um candidato, se é ele próprio o candidato o buraco é muito, muito mais embaixo. Aécio não quer ser vice porque possui brilho para ser candidato principal, mas nem todo o brilho do mundo o ajudará nesse cenário. É melhor ele repensar suas estratégias, senão corre o risco de terminar 2010 e 2014 de mãos vazias.

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