quarta-feira, 1 de julho de 2009

Zagueiro

Estavam todos putos com o Edson. Não que o Edson fosse má pessoa, mas sim porque ele estava prestes a largar a Vanessa. A Vanessa era uma boa menina. Uma menina boa, se vocês me entendem. Toda boa. Seus um e setenta e cinco de pura beleza ofuscavam facilmente os um e setenta de Edson. Ninguém acreditou quando ela aceitou namorar com ele. E ninguém acreditou quando o Edson disse, naquela mesa de bar, só com os amigos mais íntimos, que ele iria largá-la.

- Eu não acredito. - Disse o Téo, esfregando o rosto com uma mão.

- Surreal - sentenciou o Jorge.

- ... - murmurou o Silva. O Silva não falava muito. Quando o assunto era mulher, simplesmente ouvia o que os outros diziam. Quando questionado a respeito, esfregava o queixo pensativamente e depois normalmente dizia "é, eu comia."

- Pois é. - explicou o Edson - Descobri que a Vanessa não é a mulher certa para mim.

- Como assim, não é a mulher certa? - Jorge perguntava visivelmente irritado. - ela é linda, inteligente, loira, interessante, tem umas pernas que até Deus duvida...

- Eu sei, eu sei, mas ela não é o meu tipo. Isso é um problema.

- Sabe o que é um problema? Eu estou com uma alergia nas costas já faz duas semanas. Bem no meio das costas, naquele ponto que não dá pra coçar. Quer trocar de problemas comigo? Eu adoraria ter os seus problemas.

- Vocês não entendem, caras. A mina é muito grande... sei lá, eu me sinto baixinho perto dela. Eu me sinto a mulher da relação. É estranho demais. Vocês sabem que eu gosto das "pequenininhas"...

Todos sabiam. O Edson tinha um tipo de mulher ideal que ele chamava de "as pequenininhas." Ele não cansava de falar nas características que definiam uma mulher como uma "pequenininha." Jorge e Téo começaram a enumerá-las:

- Ah, as pequenininhas... - começou Téo, com voz de gozação.

- Elas são engraçadinhas... - continuou Jorge no mesmo tom.

- Elas são magrinhas, delicadinhas...

- Elas são tão bonitinhas, com um ar de frágeis...

- Elas precisam ser cuidadas...

- Ah, elas são tão carinhosinhas!

- Pois é! - disse o Edson - e a Vanessa não é nada disso! Ela é um mulherão! Ela não é magrinha nem fragilzinha! Eu é que me sinto frágil perto dela. Com todo aquele tamanho... sei lá, é demais pra mim.

Os outros continuaram não entendendo como o Edson podia estar dispensando a Vanessa. Edson tentava explicar, mas não fazia os outros entenderem.

- Ela é boa, é claro. Isso eu não nego. Mas não é pra mim. Ela não combina comigo. É como, sei lá, se eu fosse um técnico de futebol e eu tivesse dois jogadores bons pra jogar na mesma posição. É uma coisa boa por um lado mas é ruim por outro.

Pela primeira vez, o Silva se manifestou:

- Não. O correto seria dizer que você tem um ótimo zagueiro, só que pra jogar no ataque.

Edson concordou. Era a explicação perfeita. Ter um zagueiro habilidoso, só que pra jogar numa posição que não é dele. O zagueiro estava sendo mal aproveitado. O zagueiro, por melhor que fosse, não servia e nunca poderia servir para aquilo. Aquela não era a função do zagueiro. Os outros entendiam, agora? Os outros entendiam. O exemplo foi extremamente feliz. Edson se surpreendeu de o Silva, logo o Silva, ter sido o que melhor entendeu a sua situação. Talvez, por trás daquele jeito caladão dele, estivesse uma pessoa esperta, que analisasse bem as situações ao seu redor. Uma pessoa que esperasse sintetizar totalmente o acontecido para, somente depois, se posicionar sobre o assunto. Quem sabe ele soubesse o que Edson deveria fazer. Não custava perguntar.

- Então, Silva, o que você acha?

- Hum?

- Da Vanessa. O que você acha?

O Silva ergueu seu copo de cerveja e tomou um gole. Depois, recolocou-o na mesa e coçou o queixo enquanto ponderava, antes de dar a sua declaração:

- A Vanessa... é, a Vanessa eu comia.

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