domingo, 12 de julho de 2009

Saber mais ou menos

Saber mais ou menos é um perigo. Sempre procurem saber mais, crianças. Ou menos: é preferível não saber nada de um determinado tópico do que saber mais ou menos sobre ele. Muito mal já foi feito, muitos enganos graves já foram cometidos, por causa do conhecimento incompleto. O conhecimento meia-boca. Aquilo de ter uma ideia meio por cima, mas não saber direito, o negócio do "me contaram algo assim" ou "ouvi não sei onde que parece que talvez tenha acontecido tal coisa." Isso é perigosíssimo. E o pior é que se espalha. Quem não sabe direito da informação adora passá-la adiante. Informação incompleta se alastra como vírus. Quando ouvir uma frase iniciada com "eu não sei ao certo, mas parece que", tape os ouvidos.

A seguir, situações clássicas de saber mais ou menos:

"não te preocupe, vou te dar carona. Eu sei mais ou menos o caminho para o shopping."
(significa que o indivíduo não sabe exatamente como chegar ao shopping, mas tem uma ideia vaga que, para ele, é o bastante para, eventualmente, chegar lá, e por isso não vai achar que precisa pedir por direções na rua. Não encorage o conhecimento incompleto. Pegue um táxi.)

"Brrazil, sim, eu saberr sobrre Brrazil. É und linda país, com lindo frorresta e lindos mulherres, prrincipalmente na carrnaval, quando todos andam pelados nos ruas durrante as quatrro meses de durraçón do festa. Prrentendo viajarr un dia prra lá, mas parra isso prrimeirro querro aperrfeiçoarr mein espanhol."
(o saber mais ou menos afeta a todos, independente da nação.)

Pensando bem, risquem o conselho dado no exemplo 1, de chamar um táxi. Taxistas são os maiores conhecedores pela metade que existem no mundo, juntamente com os porteiros de prédios. Tome especial cuidado com as teorias. Ah, sim, as teorias. Taxista sempre tem teoria. Eles sabem quem matou o Kennedy. O Michael Jackson, morto? Pff, Não me faça rir. Vivo e livre das dívidas, possivelmente morando na mesma ilha do Elvis. É incrível como eles costuram teses com fragmentos de informações incompletas. Desconfio que eles trocam conhecimentos entre si, formando uma extensa rede de intercâmbio de informações. Depois, disseminam-as entre seus clientes, que acabam recebendo uma informação de, no mínimo, terceira mão. E deve ter porteiro envolvido, também.

-pois é, viste que coisa esta gripe suína! Já contaminou meia Argentina, agora já tá matando gente aqui no sul. Acho que são os hermanos que tão passando a gripe pra gente, hein? - teoriza o porteiro do prédio onde mora o taxista para este.

- viste que a Argentina tá passando a tal de febre suína pra gente? Tá vindo da Argentina e entrando no Rio Grande do Sul. Parece que toda a Argentina já tá contaminada, agora quando eles vierem no verão pras nossas praias já viu né? O negócio toma conta do estado. Olha, se eu fosse presidente, até já estaria pensando em um jeito de barrar a entrada deles - comenta o taxista para um amigo, também taxista.

- e essa febre suína de agora, parece que pra impedir que chegue da Argentina pro Brasil o governo vai proibir que os argentinos venham nas nossas praias no verão. Vai dar briga, isso aí. - comenta, com autoridade, o taxista para um cliente. O que deixa este com a incômoda sensação de que um conflito geopolítico está se armando e que ele anda desinformado.

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