segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O colonizador colonizado

Tenho como colega numa de minhas cadeiras de faculdade uma lisboeta chamada Mafalda. Ou Mmm-ful-dã, que é como os portugueses pronunciam o nome. Uma menina muito "fish", a Mafalda. Não entendeu? Explico: "fish" é uma gíria para "legal", em Portugal. Acho que é assim mesmo que se escreve. Não sei se tem a ver com peixe. Vai ver lá em Lisboa peixe é considerado legal. Vai saber. Outra gíria curiosa da terra do rio Tejo é "gira". Quando algo é bonito, é "gira". Não sei se pode ser aplicado a pessoas também. Pra mim, chamar uma pessoa de "gira" soa como se estivesse chamando-a de louca, pinel. Acho que é porque chamavam o personagem o Rubião do Quincas Borba disso no livro, e ele era pinel. Dúvida: será que eles também falam "pinel" em Portugal?
Conversando com a Mafalda, descobrem-se coisas curiosas sobre a influência do Brasil no seu país. Que as novelas brasileiras passam em todo o mundo, não é novidade. Todo mundo leu isso em algum lugar. Agora, ouvir que Malhação bomba do outro lado do oceano da boca de uma portuguesa, com o seu sotaque característico pra não mentir a origem, é algo que só presenciando dá pra entender. Aliás, sabem como é o título de Malhação em Portugal? New Wave. Desde que o cenário trocou de uma academia para uma escola eles mudaram o título para New Wave. Por menor sentido que faça esse nome, faz mais do que chamar uma novela com foco em uma escola de "Malhação". Por que nós não fizemos isso?
Música brasileira bomba lá, também. Ivete Sangalo não me deixa mentir. É só olhar o Rock in Rio Lisboa (afinal, por que raios não mudam o nome do evento? Rock in Rio, como o nome diz, é Rock in Rio, não Rock in Rio Tejo), que, como um amigo meu vive reclamando, devia ser chamado de Axé in Rio Lisboa, porque é isso o que toca lá. E a moçada europeia gosta. Isso também é digno de nota: o pessoal de lá respeita a Ivete. Nós não, pois ela ficou estigmatizada como cantora de axé. A Mafalda não sabe o que é axé, mas é fã da Ivete. Lá eles nem sabem se aquilo é um gênero maior ou menor de música, ou que gênero é aquele, apenas curtem. Por aqui, deveríamos parar com o preconceito com a nossa música dita "ruim". Até porque lá em Portugal eles não têm o axé, tem o "pimba". Já ouviram o pimba? Ouçam, e depois tentem reclamar do axé.
Interessante como, há uns dois séculos atrás, copiávamos a sociedade lusitana, e agora nós exportamos a nossa cultura para eles. É uma inversão de papeis, o colonizado vira o colonizador. Em 500 anos, demos a volta por cima e viramos potência, servindo de exemplo para outros países de língua portuguesa, não só Portugal mas também alguns países da África. Já pensaram num Brasil potência mundial? Que Angelina Jolie o quê: Juliana Paes seria a atriz mais famosa do mundo. O Carnaval brasileiro seria mundial, e até no Oriente veríamos chinesas rebolando ao som de uma escola de samba. Um subgênero de filmes de ação que iria realmente decolar seriam os "favela movies", os filmes de guerra entre traficantes, com direito a efeitos especiais decentes e o Capitão Nascimento entrando ao lado de Rambo e John Mclane na galeria dos herois de ação. O lançamento do novo livro do Paulo Coelho mobilizaria pessoas do mundo inteiro a dormirem na frente das livrarias, isso se a obra não vazasse antes na rede. Já pensaram? Seria muito "fish". Ou não.

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