sábado, 27 de junho de 2009

Estranho

Michael Jackson morreu. Que estranho. Ele é (era) daquelas pessoas que você imagina que vão viver para sempre. Ele estava lá quando seus pais eram jovens, ele bombava antes de você nascer, ele tinha cinquenta shows agendados e um cd novo no forno. E bum. Ele morre. Quando eu ouvi que ele teve um ataque cardíaco, nem me passou pela cabeça que o cara ia bater as botas. Capaz: no máximo alguns show teriam que ser adiados. Astros pop não morrem com um simples ataque do coração, muito menos o rei do pop. E não tão subitamente.
O mais estranho, porém, é que o mundo parece ter feito as pazes com Jackson. Antes, ele era um excêntrico, pedófilo, com síndrome de Peter Pan e falta de discernimento da realidade. Um renegador de sua raça. Um obcecado doentio pela aparência. Agora que ele morreu, tudo foi perdoado. Da imagem do Michael restaram somente as coisas boas: o seu talento imensurável na música e na dança, a sua popularidade, a sua preocupação com causas sociais. Coisas que ninguém fazia questão de lembrar semana passada. Afinal, qual era o verdadeiro Michael: o bom ou o ruim?

Michael Jackson começou a carreira aos 4 anos. Em 1962, portanto. Seu pai o fazia ensaiar exaustivamente, sempre com um cinto na mão para puní-lo no caso de ele errar. Ele tinha que ser perfeito. O pequeno Michael levava uma surra cinco minutos antes dos show e tinha que subir ao palco sorrindo e dançando. Nenhuma criança sai ilesa de uma infância assim, psicologicamente falando. Dizem que o pai de Michael o chamava de feio e reclamava do seu nariz. Logo o pai, que devia ser seu suporte e seu modelo a seguir. A família Jackson não era uma família, era um negócio. Os Jackson 5 eram uma forma do pai ganhar dinheiro às custas dos filhos. E destes, Michael era o mais talentoso. Com seu talento, conseguiu construir uma colossal carreira solo longe da influência maligna da família, mas sem a menor estrutura de vida para isso. Imaginem o que é ser alvo da mídia desde os quatro anos, sem uma boa estrutura familiar para apoiá-lo. Estranho não era o Michael ser do jeito que era. Estranho seria se, apesar de tudo isso, ele fosse normal.

Vamos tentar analisar a sua vida tomando em conta que tudo o que ele disse tivesse um fundo de verdade. Que ele afinou o nariz para alcançar notas altas, por exemplo. Difícil de acreditar, mas tudo bem. Ou que ele teve vitiligo e por isso perdeu a coloração da pele. É impossível ter vitiligo no corpo todo, mas é possível que ele tenha decidido descolorir a pele inteira para não ter que se preocupar com as aparências das manchas. Se desconsiderarmos o fato de ele ter mudado de cor, veremos que ele nunca negou as suas raízes: Michael seguiu fazendo música dita "negra", mas sempre inovando-a e trazendo influências de fora.

E o caso com as crianças? Michael era um ótimo empresário, se pensarmos a respeito. Ele foi muito inteligente na administração de sua própria carreira, mas parece que, conforme o tempo foi passando, ele foi ficando mais ingênuo. É claro que Neverland foi feita para recuperar a infância perdida, e nada mais natural do que querer passar a infância com outras crianças. Basta um pai esperto levar o filho para o rancho de Michael e depois se aproveitar de sua inocência para instaurar um processo e ganhar milhões. Notem que, na primeira intimação de pedofilia, os pais da criança não estavam interessados em ver Michael preso: ao receberem alguns milhões de dólares do cantor, se deram por satisfeitos e ficaram bem quietinhos. Não estou dizendo que estes casos não tenham realmente acontecido. Mas nunca saberemos ao certo.

Agora, vamos nos colocar no lugar de Michael, caso ele realmente fosse inocente: o cara passou por uma infância péssima, com péssimos pais, viveu sob os holofotes da mídia, tentou se afastar de tudo isso para recuperar a infância que não teve, foi vítima de um golpe por gente que soube se aproveitar de sua esquisitice, foi chamado de pederasta, pedófilo, racista. Atormentado por todas as vezes que seu pai o chamou de feio, tentou mudar sua aparência, mas todas as suas plásticas geravam críticas por parte da opinião pública, que agora pegara o lugar que antes era de seu pai, chamando-o de feio. Ninguém mais lembrava de seu talento. Ainda por cima, perde todo o dinheiro e é obrigado a voltar para os palcos, mesmo sem o preparo necessário para isso. O talento matou Michael Jackson. Se ele não tivesse talento, em primeiro lugar, ele não seria cobrado do pai para explorar ao máximo as suas habilidades. O correto seria ele ter tido este ataque cardíaco no meio de um de seus futuros cinquenta show, e morrido no palco. Seria uma morte simbólica. O palco matou o artista.

Esta coisa que está acontecendo agora com Jackson de deixar o lado ruim no passado e só valorizar as coisas boas serve de lição. Se alguém faz algo que julgamos errado, provavelmente é porque esta pessoa está confusa, e neste caso merece a nossa compreensão, e não o nosso ódio. Michael morreu triste por ser odiado pelo mundo. Ironicamente, a sua morte faz recuperar o amor de todos nós por ele. Não devemos esperar uma pessoa morrer para mudarmos a nossa visão dela. Mudemos hoje, e deixemos que ela saiba o quanto a admiramos. Caso contrário, ela morrerá sem saber o quanto nos importamos.

Michael Jackson: 1958-2009. R.I.P.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Ideias

"Hoje em dia todo mundo pode ter um blog. Difícil é ter o que dizer", disse o professor Juremir Machado da Silva para a sua turma de jornalismo, segunda passada. Ou algo parecido. É um bom ponto. Sem dúvida, tem que ter o que dizer. Vamos ser sinceros: ninguém mais está a fim de ler um blog-diário, um blog "essa é a minha vida e esse é o meu mundo." Era moda ter um blog assim quando o blog era uma novidade. Hoje o negócio saturou. O pior, quem faz isso é sempre - SEMPRE! - um depressivo, um cara frustrado, que precisa desabafar sua vida difícil para desconhecidos na internet. Os desconhecidos não têm interesse no blog, infelizmente. O número de acessos no contador não consegue nunca chegar aos 200. Os primeiros 100 foram colocados pelo blogueiro, é claro. Este aposenta o blog depois da segunda semana, mas não o tira do ar, mantendo o domínio do nome do blog ocupado. Às vezes é um nome bom que muita gente gostaria de usar para o seu blog mas não pode, não, ele já está ocupado, e por um cara que não escreve. Ah, esses ladrões de domínio...
Nada contra quem faz isso. É sério. É um tipo de terapia, escrever. Faz bem escrever sobre o que o está incomodando, deixar alguém ler, externalizar os problemas e tal. Eu apóio. Mas que ninguém tem saco de ler as queixas de um desconhecido é um fato. Principalmente porque não é algo original, não é algo instigante de ler. Sim, eu sei que a sua vida está uma droga, que o trabalho é entediante, que quem você gosta não gosta de você. É a mesma história de sempre. Cadê a originalidade? Se há uma necessidade de escrever isso, então é preciso procurar um jeito original de fazê-lo. Quem você é transparece pelo que você pensa. O desafio está na ideia. Em ter ideias, ter posições, ter conteúdo para falar. Ter o que falar. Se queixar de que não há nada de interessante na vida é a mesma coisa que fazer um blog dizendo "não há nada de interessante aqui." Tem que ter o que dizer. Algo que pouca gente disse, ou de uma forma que pouca gente diz. Uma ideia original.

Elas são raras, hoje em dia, as ideias. De vez em quando, uma aparece. Arisca, prestes a levantar voo e ir para outro lugar.
- Fique bem quieto!
- O que houve?
- Uma ideia! Está se aproximando. Ela é muito delicada. Cuidado para não assustá-la.
- Como assim? Não estou entendendo.
- Shh!!! Ah, viu? Ela fugiu.
- Hein?!
- Eu disse pra você ficar quieto.
Às vezes temos as ideias mais brilhantes e elas acabam fugindo de nós. É um momento de brilho que, se não aproveitado, se apaga e não volta mais. Hoje, conversando com alguns colegas, decidi comprar um bloco de notas. Vou carregá-lo sempre comigo. Assim, quando me vier uma ideia, uma frase, eu tenho onde rabiscá-la imediatamente. Já sei até o que escrever na primeira página: "O Fantástico Twitter em Papel: escreva e publique suas ideias instantaneamente!" Publicar, no caso, só pra mim. Mas enfim, é portátil, é barato e não precisa de conexão Wi-Fi.
As ideias que amadurecerem, que eu consiga construir uma posição para argumentar em cima, eu publico neste blog.
Legal, então... agora é só esperar até aparecer mais alguma para o próximo post.